segunda-feira, 28 de novembro de 2011

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E SABERES DO PROFESSOR: NA LUTA DO REENCATAMENTO DA EDUCAÇÃO

Atualmente as tecnologias da informação e da comunicação – TIC – aumentam ou diminuem as chances de uma educação para a solidariedade? Isso depende de como ela interfere na empregabilidade e na exclusão social e se muda algo ou não nas frágeis predisposições humanas. A verdade é que a profundidade e a rapidez da penetração das TIC estão transformando muitos aspectos da vida cotidiana, e durante toda a evolução da espécie humana, nunca houve mutações tão profundas e rápidas.
É indiscutível que a sociedade da informação – SI – decorre das grandes transformações resultantes da TIC. A SI além de ser um fenômeno tecnológico, apresenta-se também como consubstanciada com um determinado projeto político, ela encerra imensas potencialidades positivas, mas também contém igualmente uma série de riscos. Sendo que essa rápida transformação acaba aumentando as taxas de crescimento econômico, grande parte da população mundial passou ao rol de “massa sobrante”. Vários documentos oficiais da União Européia sobre as mutações no mundo atualmente destaca três choques básicos: o choque da sociedade da informação, o choque da mundialização e o choque da civilização científica e técnica. E de acordo com Assmann (2007):

[...] O conhecimento – e não os simples dados digitalizados – é e será o recurso humano, econômico e sócio-cultural mais determinante na nova fase da história humana que já se iniciou. Com a expressão sociedade aprendente pretende-se inculcar que a sociedade inteira deve entrar em estado de aprendizagem e transformar-se numa imensa rede de ecologias cognitivas (ASSMANN, 2007, p.19).

Assim, a proposta de uma sociedade aprendente acredita tudo entre educação e empregabilidade como via para superação das exclusões, e sendo adequada de certo modo, a lógica do mercado. Dessa forma seria absurdo negar a relevância da educação para conseguir emprego no mundo de hoje, porém, não se trata de questionar se a educação é uma condição imprescindível para empregabilidade, mas questionar se esta condição necessária é suficiente para a empregabilidade dentro da lógica do mercado operante atualmente.
Os seres humanos não são “naturalmente” tão solidários quanto parecem, porém, não que sejam “naturalmente” perversos ou anti-solidários, mesmo algumas tradições culturais e religiosas terem chegado perto dessa visão. Sendo que a questão do pecado original é uma espécie de chave interpretativa acerca do que se pode esperar dos seres humanos no convívio social, porém, atualmente não faltam os que têm esperanças na democraticidade que impregna as próprias características interativas das novas tecnologias. Hoje no bojo das novas tecnologias, pode-se dizer que se encontram grandes chances de ampliação efetiva da solidariedade universal entre os seres humanos. A grande verdade é que a lógica da exclusão se enraizou nas instituições do mundo de hoje, assim é necessário a criação de uma educação para a solidariedade persistente, sendo a mais avançada tarefa social emancipatória. As características da era das redes são promissoras, assim, basta saber usá-las de forma correta em proveito da educação da solidariedade, é preciso trabalhar pedagogicamente o descompasso dos seres humanos.
Agora pergunto, atualmente diante de todas essas tecnologias da informatização, é possível falar em reencantamento da educação sem se passar por ingênuo? No mundo de hoje, a privação da educação é uma causa mortis inegável, e as biociências descobriram que a vida é uma persistência de processos de aprendizagem, assim, processos vitais e processos de conhecimento são basicamente a mesma coisa. A escola deve ser um lugar prazeroso, mas infelizmente muitas vezes não é, devido o panorama brasileiro ser desolador, principalmente na escola pública de primeiro e segundo graus. A luta pela revalorização e redignificação salarial e profissional dos docentes, acabou por tornar-se prioridade, fazendo assim, que alguns se esqueçam do reencantamento do cerne pedagógico da experiência educacional.
São necessárias muitas frentes de lutas pela melhoria da educação, pois se sabe que em muitas instituições educativas, há muita gente encalhada no mero negativismo, porém, não se pode ficar contornando eternamente a evidência de que a qualidade na educação passa centralmente pelo viés pedagógico. Somente educadores entusiasmados com seu papel na sociedade conseguem criar opinião favorável aos seus reclamos. Atualmente, as palavras “conhecimento e aprender” exercem um fascínio, aparecem por todo lado, e nos últimos anos se intensificou o debate sobre o conhecimento, até mesmo na economia se fala de aprendizagem e conhecimento.
A discussão sobre o conhecimento abarca hoje todos os processos naturais e sociais onde se geram levando várias formas de aprendizagem, o importante é saber que tudo aquilo que é capaz de aprender cumpre processos cognitivos. Assim, a pedagogia escolar deve estar ciente de que não é a única instância educativa, porém, não pode renunciar a instância educacional a qual tem o papel de criar conscientemente experiências de aprendizagem. O fato maior do mundo atual são as lógicas da exclusão e o alastramento da insensibilidade que os acompanha, dessa forma a educação terá papel determinante na criação da sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade.
Acaba surgindo uma hipótese desafiadora, onde a humanidade entra na fase, onde nenhum poder econômico ou político é capaz de controlar a explosão dos espaços do conhecimento, e a internet é um exemplo disso. Com isso a educação, deve ocupar, de forma criativa, os acessos ao conhecimento disponível e de gerar, positivamente, propostas de direcionamento dos processos cognitivos, “[...] A educação tem o papel de formar seres humanos para os quais a criatividade e a ternumar e a ternura sejam necessidades vivenciais e elementos definidores dos sonhos de felicidade individual e social” (ASSMANN, 2007, p. 29).
Enfim, o ambiente pedagógico tem de ser lugar de fascinação e inventividade, e quando se fala em reencatar a educação, quer dizer, colocar a ênfase numa visão da ação educativa como ensejamento e produção de experiências de aprendizagem. Educar é fazer surgir vivências do processo de conhecimento, e não simplesmente aquisição de conhecimentos prontos e disponíveis para o ensino da simples transmissão, e a educação só consegue bons “resultados” quando se preocupa em gerar experiências de aprendizagem. Rubem Alves costuma dizer que educar tem tudo a ver com sedução, para ele educador é quem consegue desfazer as resistências ao prazer do conhecimento.



Rosimar Pereira dos Santos Balduino
Universidade Federal de Goiás
História (Licenciatura)




 




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 10. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário